quinta-feira, 13 de julho de 2017

MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM TERRA (MST) E O MODELO DE ESCOLAS PARA O BRASIL



 ESCOLAS ITINERANTES UM PROJETO QUE DEU CERTO
Um olhar de esperança (Imagem cedida)
A Escola Itinerante foi criada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com intuito de garantir o direito à educação das crianças e adolescentes em situação de itinerância, enquanto estão acampados, lutando pela desapropriação das terras improdutivas e implantação do assentamento. É uma escola que está voltada para toda a população rural acampada, pois os acampamentos são formados por famílias que foram excluídas da terra, do processo produtivo e de todos os seus direitos, inclusive o de estudar.


A expressão “Itinerante” vem da ideia de não fixo, ou seja, que é possível se movimentar, mudar de lugar, deslocar-se para exercer certa função. Assim sendo, a Escola Itinerante pode ser compreendida como a escola que anda, que se movimenta e que em sua dinâmica de movimentar-se, de mudar de lugar, próprios das reivindicações e estratégias de luta construídas nas ocupações de terra, ela acompanha para garantir o direito de estudar dos sujeitos acampados.  

Na região do Paraná existe uma quantidade expressiva de Escola itinerantes  pertencentes ao MST, principalmente na região oeste.  A equipe do blog pôde acompanhar a rotina de duas escolas de dois  acampamentos: Escola itinerante Herdeiros do Saber 1 localizada no acampamento Herdeiros da Terra  e a Escola Itinerante Wagner Lopes do acampamento Dom Tomas Balduíno.


                                                   Escola Itinerante Herdeiros do Saber 1
Imagem cedida

A Escola itinerante Herdeiros do Saber 1 possui um total de 525 alunos divididos em turnos pela manhã, tarde e noite. Pela manha os alunos estão divididos em 10 turmas, enquanto a tarde estão  divididos em 8 turmas. existe também um reforço para os alunos parte da noite.

Os turnos de aula acontecem das 07:45 até  11:20 e das 12:45 até 16:40. Possuem esses horários devido ao transporte escolar que ocorre da cidade até o acampamento e vice-versa, principalmente em função dos professores que residem em sua maioria em Quedas do Iguaçu. Todo dia pela manhã, antes do começo das aulas, é realizado o tempo-formatura onde são exaltados os princípios do MST através de canções entoadas pelos alunos.
Esforço e dedicação (Imagem cedida)
Os alunos visando aprimorar seus estudos possuem uma biblioteca repleta de livros. Parte dos livros são fornecidos pelo Estado do Paraná, mas a grande maioria é adquirida através de pessoas simpatizantes com a escola e o movimento.  A qualquer momento do dia, os alunos possuem acesso ao material didático existente na biblioteca. 

Há uma preocupação da escola com a agro-ecologia e a sustentabilidade e, por isso, em horários extraclasse, os alunos se dedicam a horta da Escola e aprendem a lidar com um plantio de vegetais livres de agrotóxicos.

Apesar da exemplar organização da Escola, a mesma possui certas dificuldades. Falta de água, mal provimento de internet e dificuldade de recebimento de gêneros alimentícios para a merenda são comuns. A maioria das refeições servidas são incrementadas com produtos doados pelo próprio acampamento, pois o Estado tem dificuldade em prover uma alimentação básica. Ocorre também uma certa falta de estrutura nas construções do colégio, tendo em vista que as salas possuem piso de chão batido (terra). Apesar de tudo a alegria e orgulho de ser um sem-terra é perceptível nos rostos dessas crianças. 
Atenção e dedicação em sala (Imagem cedida)


Célio,um dos coordenadores pedagógicos da escola Herdeiros do Saber 1, em entrevista com equipe do blog, abordou alguns assuntos pertinentes ao sistema de ensino do MST. Conforme ele, o ensino do Movimento procura realizar uma transformação social, através de uma organização baseada em elementos de luta que proporciona a identidade do sem terra. Os alunos das escolas têm que estar consciente da classe trabalhadora a qual faz parte e saber também o que esta se passando no mundo, ou seja estar atualizado. Segundo Célio além das matérias obrigatórias pelo MEC, o aluno do MST tem uma grade de estudos baseada na ideologia socialista, onde se debatem questões da vida, relações sociais e a condição social do sem-terra. Para materializar isso, as escola possuem planos de estudos e  procuram ter interdisciplinaridade entre as matérias.    
Debates que enriquecem o saber (Imagem cedida)

Debates são comuns nas salas de aula proporcionando aos alunos um senso critico e um conhecimento sobre os assuntos mais relevantes da nossa sociedade. Portanto, o MST refuta de maneira solene o projeto de lei "Escola Sem partido". De acordo com Célio , esse projeto diminui o senso critico do aluno destruindo o pensamento e a ideologia das escolas do MST. A proposta das escolas é proporcionar uma sociedade mais justa e desigual  buscando o apoio da sociedade. Estreitar as ligações do campo com a sociedade através das relações sociais e principalmente proporcionar uma educação de qualidade para o filho do acampado.



                                                                         Escola Itinerante Wagner Lopes
 A Escola Itinerante Wagner Lopes possui aproximadamente 500 alunos, divididos em turnos pela manhã, tarde e noite. A educação varia do ensino fundamental ao ensino médio. Diferente da Herdeiros do Saber 1, a escola possui alunos de fora do Estado do Paraná e estrangeiros mostrando que não existem preconceitos na matricula de alunos.

Professora realizando demonstração
 Em sua programação, fora o currículo escolar previsto pelo MEC, são previstas aulas especiais de agronomia e artes.
Maicon - Equipe de Coordenação Escolar
Além disso dar ênfase na  interdisciplinaridade  entre as matérias. Atividades extraclasse como  a separação do lixo e reciclagem são comuns na Escola.
Alunos em sala de aula
Debates na sala de aula a respeito de assuntos da atualidade como política, preconceito, diversidade e reforma agrária são comumente realizados. Também assim como em outras escolas itinerantes o tempo-formatura é previsto antes do inicio das aulas.
Biblioteca
A escola possui uma biblioteca com um discreto acervo de livros e alguns computadores com acesso a internet, onde os alunos podem realizar suas pesquisas. Além de livros, a biblioteca possui jogos para recreação dos alunos.


A avaliação dos alunos é feita a partir de um parecer descritivo, onde vários professores conceituam um mesmo aluno proporcionando um conceito escolar mais justo. Caso o aluno não consiga êxito, o mesmo entra em recuperação(turno noturno), sendo posteriormente submetido a outro parecer descritivo.


Porem as dificuldades rondam essa exemplar escola, principalmente no tocante a falta de recursos para a merenda. Carne,  não se recebia do Estado desde abril de 2015.
Confecção da merenda


Apenas em maio de 2017, a Escola Itinerante recebeu esse gênero alimentício. Para contornar essa situação, a comunidade existente no acampamento auxilia a confecção da merenda com doações.


Assistência médica para as crianças não existe e assistência religiosa e raríssima  pois o padre de Quedas do Iguaçu não visita o acampamento. De maneira geral existe um certo preconceito da cidade de Quedas do Iguaçu com a população acampada, o que traz maus reflexos para educação dos filhos dos acampados e também para o acampamento como um todo.

Verônica - Equipe de Coordenação Escolar
Outro problema existente é que nem todos profissionais da escola recebem salários do Estado. Para compensar isso existe um rateio entre os que recebem para custear os que não recebem salários. Os desafios para a Escola e seus profissionais são muitos, mas para essa gente a solidariedade e a responsabilidade não tem limites.
  

Portanto as Escolas Itinerantes são um exemplo para a sociedade brasileira  e contrapondo às instituições capitalistas. Mostram que mesmo com muito pouco, quando se tem organização, solidariedade e força de vontade coletiva, se pode ter um ensino de qualidade para as nossas crianças e um futuro melhor.

 Texto: Kako Henrique
 Fotos: Eduardo Teixeira 
 Colaboração: Escola Herdeiros do Saber 1 (entrevista e imagens)  (Prof e Coord Toni Escobar)
                        Escola Wagner Lopes (entrevista) (Prof e Coord Maicon e Verônica)




Camponeses Sem Terra chegam a capital paranaense para reunião com Incra

A pauta é de negociação com o Superintendente Edson Wagner de Sousa Barroso. 


Por Comunicação MST/PR
Da Página do MST

Na manhã desta segunda-feira (10), cerca de 100 pessoas de acampamentos e assentamentos do Movimento Sem Terra do Paraná, chegaram ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), na capital paranaense, para uma pauta de negociação com o Superintendente Edson Wagner de Sousa Barroso.

A pauta diz respeito às áreas de acampamentos, que foram despejados ou tiveram indícios de reintegração nos últimos meses, o assentamento imediato para as famílias acampadas no estado e as políticas publicas para o desenvolvimento dos assentamentos.

"Estamos aqui para reivindicar o cumprimento de antigos compromissos assumidos pelo Incra que não estão sendo cumpridos, tanto em relação a criação de assentamentos em áreas onde existem famílias acampadas a mais de uma década, quanto em relação as demandas de infra estrutura e assistência técnica em assentamentos", disse Rodrigo Athayde, da coordenação do MST.

Até o momento o superintende do Incra não havia recebido as famílias para conversar sobre a pauta. “Vimos prontos para ficar quantos dias forem necessários. Trouxemos comida, colchões e cozinha completa e deixamos bem claro de que é uma negociação pacífica da nossa parte”, completou Athayde.

 *Editado por Rafael Soriano

Fonte original: http://www.mst.org.br/2017/07/10/camponeses-sem-terra-chegam-a-capital-paranaense-para-reuniao-com-incra.html
 
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