Direita x esquerda
Discursos inflamados, "beijaço" gay e troca de socos marcaram participação do deputado federal em evento na Assembleia Legislativa
Bolsonaro estapeia boneco inflável de Lula sob aplausos do deputado estadual Sérgio Turra, que o convidou para o evento
Foto:
Lauro Alves / Agencia RBS
Em
cima do palco, Jair Bolsonaro tenta remover a purpurina que brilha em
seu cabelo quando é interrompido por mais manifestantes. Eles ocupam os
fundos do auditório — a maioria tem entre 16 e 25 anos —, recebem vaias
da plateia e desfraldam uma bandeira do arco-íris.
— Eu beijo
homem, beijo mulher, tenho direito de beijar quem eu quiser! — cantam
todos em coro, para depois se beijarem na boca, rapazes com rapazes,
garotas com garotas.
— Fora, comunistas! Fora, vagabundos! — rebate o público, já dando sinais de irritação.
Manifestantes promovem "beijaço" gay no auditório para protestar contra as posições conservadoras de Bolsonaro Foto: Lauro Alves / Agencia RBS
Bolsonaro
sorri no palco, tira mais purpurina do cabelo e ergue um boneco
inflável. Começa a estapeá-lo. Enche de bolachas o pequeno Lula vestido
de presidiário. A plateia vai ao delírio, grita "Bolsonaro, guerreiro,
orgulho brasileiro". Os militantes LGBT respondem aos berros de
"fascistas" e, quando se preparam para deixar o auditório, começa a
pancadaria.
Deputado federal mais votado do Rio de Janeiro, famoso
pelas posições conservadoras e pelos discursos incendiários contra os
homossexuais, Jair Bolsonaro (PP) provocou alvoroço na Assembleia Legislativa nesta terça-feira à tarde. Em princípio, ele viria a Porto Alegre apenas para a cerimônia de posse do Comando Militar do Sul,
que ocorreria à noite. Mas o deputado estadual Sérgio Turra (PP),
quando soube da visita, decidiu convidá-lo para uma audiência pública no
parlamento gaúcho.
— Pô, mas veio logo de rosa? — zombou
Bolsonaro ao perceber a cor da camisa do repórter de ZH. — Já que
ninguém mais faz fiu-fiu para as mulheres, hoje vai ter um monte de
gente fazendo para mim.
Direita o chamou de "mito", e esquerda, de "homofóbico"
Ele
se referia aos militantes LGBT, que haviam prometido um "beijaço" de
protesto. Porque, se a presença de Bolsonaro não lotou o Teatro Dante
Barone — só metade da capacidade foi ocupada —, conseguiu mobilizar os
grupos mais barulhentos da direita, que o idolatram, e da esquerda, que o
abominam. No início do evento, a maioria dos manifestantes já se
posicionava nos fundos do auditório quando o deputado foi surpreendido
por quatro militantes na entrada do palco.
— Homofóbico! Racista! — vociferaram eles ao jogar um saco de purpurina na cabeça do parlamentar.
— Esses idiotas não sabem que o seu ídolo, Che Guevara, matava homossexuais! — começou Bolsonaro e sua metralhadora giratória.
A
cada frase de efeito, a plateia urrava de prazer, gritava "mito, mito,
mito!", em referência ao apelido Bolsomito cunhado pelo fãs. Havia
jovens, senhores e senhoras, boa parte enrolados em bandeiras do Brasil.
Uma das maiores ovações veio quando Bolsonaro expôs sua fórmula para
resolver o problema da segurança pública: cortar os recursos para "os
vagabundos dessas ONGs de direitos humanos" e revogar o Estatuto do
Desarmamento:
— Na ditadura, a gente comprava arma na Mesbla e ninguém sofria com a insegurança como hoje!
Acompanhado por deputados gaúchos, Bolsonaro simula uma metralhadora e defende população mais armada Foto: Lauro Alves / Agencia RBS
— Tem que meter bala nos vagabundos! — respondia a plateia com os punhos cerrados.
Tanto
acirramento não podia dar em boa coisa. Depois do beijaço, uma garota
do grupo de esquerda se irritou quando um simpatizante de Bolsonaro pôs a
mão em seu ombro para tirá-la dali. Ela empurrou o homem, que a
empurrou de volta e, na sequência, já havia direitistas e esquerdistas
rolando pelo chão do Teatro Dante Barone, trocando socos e pontapés até a
segurança da Assembleia intervir.
Simpatizantes de Bolsonaro e manifestantes de esquerda entraram em confronto durante o evento na Assembleia Foto: Lauro Alves / Agencia RBS
— Tomei um soco na cara, meu, na cara! — dizia uma adolescente, chorando.
—
Fui juntar os óculos de um colega e, quando vi, tinha um desgraçado no
meu pescoço — afirmou um senhor que se identificou como Jorge Alberto
Eisenhut, 66 anos. — Mas a minha função é bater em esquerdopata. Já bati
nuns quantos, eu bato mesmo.
E assim deu-se a passagem de Bolsonaro por Porto Alegre: com gritaria e intolerância.
Alguns diriam que foi a cara dele.
Fonte:http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2016/01/como-foi-a-polemica-passagem-de-bolsonaro-por-porto-alegre-4961186.html (Matéria e Imagens)
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