segunda-feira, 18 de setembro de 2017

AS TRIBOS NO ESTADO DO PARANÁ E SUAS BATALHAS PELOS DIREITOS





 Há cerca de 240 tribos que vivem hoje no Brasil, totalizando aproximadamente 900.000 pessoas, ou 0,4% da população do país.
O governo reconheceu 690 territórios para a população indígena, que abrange cerca de 13% do território brasileiro. Quase todas estas terras (98,5%) encontram-se na Amazônia.
Imagem Google
Mas, apesar de cerca de metade dos índios brasileiros viverem fora da Amazônia, essas tribos ocupam somente 1,5% da área total reservada para os índios no país.
Os povos que vivem nas savanas e florestas atlânticas do sul, como os Guarani e os Kaingang, e o interior seco do Nordeste, como os Pataxó Ha Ha Hãe e os Tupinambá, estavam entre os primeiros que foram contatados pelos colonizadores europeus quando eles desembarcaram no Brasil em 1500.
Apesar das centenas de anos de contato com a sociedade de fora, na maioria dos casos os índios lutaram para manter sua língua e costumes em face do roubo e invasão das suas terras, que continua hoje.
A maior tribo hoje é os Guarani com uma população com cerca de 50.000 indígenas no Brasil. Porem eles têm muito pouca terra agora. Durante os últimos 100 anos, quase toda a sua terra foi roubada e transformada em vastas redes secas de fazendas de gado e plantações de soja e cana de açúcar. Muitas comunidades estão morando em reservas superlotadas e outras vivem sob lonas em beiras de estradas.
No Estado do Paraná a situação não é diferente para  o povo guarani que sobrevive a violência do homem branco. A equipe do blogger teve acesso a três Aldeias Guaranis que apresentaram diferentes condições humanitárias e sociais. Tekohá Marangatu,  Tekohá Añetete e Tekohá Itamarã.

Tekohá Marangatu
Imagem Google
Antes de entendermos o que se passa na  Aldeia devemos entender o significado da palavra Tekohá. Essa palavra indica  a forma que o povo guarani se refere a sua terra tradicional. Porém, mais do que um simples espaço ocupado por um grupo ou de onde retira sua sub existência, é nesta terra em que se produz toda cultura.

Um Tekohá é formado por uma família extensa, que é um ente sócio-político econômico e territorial autônomo, a estrutura básica da sociedade guarani.
Acesso à Aldeia
Cacique Inácio Martins
Fossa improvisada
A Aldeia Tekohá Marangatu se encontra no município de Guaíra - PR. possui um total de 47 famílias. O líder da Aldeia é o Cacique Inácio Martins. Em conversa com o mesmo ele explicou que a situação da Aldeia é precária. Não existe água e luz para todos. Há apenas disponíveis 14 banheiros para todas as famílias. As fossas sanitárias estão cheias e a Prefeitura não realiza a limpeza. Não possuem um espaço adequado para plantar. A segurança é comprometida, pois a policia militar, civil ou federal não comparece ao local. Apenas o Conselho Tutelar e Ministério Público vão à Aldeia para verificarem a situação dos indígenas. Quase todo o dinheiro que o cidadão indígena recebe do Bolsa família e Bolsa Verde serve para custear o pagamento da empresa fornecedora de energia elétrica. Alem disso,  torres de energia (alta tensão), pertencentes a ITAIPU BINACIONAL, passam pelo interior da Aldeia Marangatu e são um grande risco aos moradores.
Escola Mbyja Porã
Dentro do território da Aldeia existe à Escola Estadual Indígena MBYJA PORÃ EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS, com cerca de 80 alunos e dirigida pela professora Claudia Regina de Oliveira. Em conversa com Claudia foi percebido o descaso do Estado do Paraná com à escola. Praticamente todos os materiais usados pelos professores para preparação das aulas são conseguidos através de arrecadação realizada entre eles ou por doações. Os banheiros da escola se encontram entupidos. Não tem rampa de acesso para deficientes, sendo que à escola possui um aluno cadeirante. 
 A escola se mantém da boa vontade, empenho e dedicação de seu corpo docente.
Brigido, o aluno cadeirante,  destaca-se nas aulas se mostrando um aluno com intelecto superior. Claudia acredita que ele possui condições plenas de avançar pelo menos dois anos em sua grade curricular.
Aluno Brigido
Entretanto, não são só de problemas estruturais que a Aldeia e à Escola Estadual Indígena Mbyja Porã sofrem. O preconceito por parte da população de Guaíra é acerbado.

Cacique Inácio demonstrando as condições precárias na Aldeia
Calunias contra os indígenas são frequentes. A questão da demarcação da área indígena Terra Roxa, no próprio município, provoca vulnerabilidades sociais. Ameaças são constantes. Criticas ao modo indígena de viver são enormes. A Organização Nacional de Garantia ao Direito de Propriedade (ONGDIP), ligada ao sindicato rural de Guaíra, critica muito a demarcação de terras Guaranis no município.

Não há serviço de coleta de lixo na Aldeia

Apesar de tudo isso, a Aldeia Tekohá Marangatu persevera e segue na luta. Com apoio praticamente apenas do Ministério Público e de pessoas simpatizantes a causa indígena, como Claudia diretora das escola, aos poucos  a população indígena de Guaíra vai reconquistado seu espaço e mostrando que todo e qualquer tipo de preconceito é desnecessário. Tekohá Marangatu luta pela inclusão social do seu povo.

Tekohá Añetete
A Aldeia Tekohá Añetete se encontra no município Diamante D'Oeste - PR.
Escola Estadual Indígena KUAA MBO'E
Possui 78 famílias e 1747 hectares. Sua origem remonta da Aldeia Jacutinga que foi inundada devido a HIDROELÉTRICA ITAIPU BINACIONAL ter sido transferida em 1997 para sua atual localização. O Cacique da Aldeia é João. O Cacique também é professor de guarani na escola dentro da Aldeia à ESCOLA ESTADUAL KUAA MBO'E.
Cacique João
Diferente da situação de Guaíra à Aldeia possui uma assistência muito boa dos órgãos públicos locais. Existe água de poços artesianos  e rede elétrica. Também há um posto médico com um profissional contratado que vem uma vez por semana. O posto também possui profissionais dentistas e enfermeiros. Os atendimentos são feitos a indígenas e funcionários da escola.
Alunos em atividades escolares
Na área da Aldeia são plantados feijão, milho e mandioca com posterior venda para uma cooperativa. Ocorre uma coleta central do lixo e uma separação do mesmo para uma posterior reciclagem.
Alunos em atividades escolares
Alunos em atividades escolares
A Escola Estadual Kuaa Mbo'e possui cerca de 180 alunos. Foi ampliada em 2012. Possui atualmente 8 salas de aula, uma biblioteca e uma sala de ciência. Os professores são contratados pelo Estado e vem de transporte escolar fornecido pela Prefeitura de Diamante D'Oeste. Os materiais didáticos e merenda são fornecidos pelo Estado do Paraná. Há um bem estar na escola.
trabalhos artesanais
trabalhos artesanais


A sociedade de Diamante D'Oeste possui ótima relação com a Aldeia. A policia local também periodicamente faz uma ronda na Aldeia. A FUNAI também realiza visitas periódicas ao local. Existe uma participação cultural da Aldeia com o município, principalmente na passagem do dia do índio. O único porém, relatado pelo Cacique João é que a população da Aldeia está aumentando e num futuro próximo a área demarcada necessitará ser aumentada.
Apesar de estarmos no mesmo Estado existe uma perceptível diferença de importância dadas as Aldeias guaranis. Enquanto uma sofre com com o preconceito e a falta de assistência do Estado, a outra quase chega próximo do ideal para questão indígena. A diversidade e igualdade entres povos é fato. Só falta abrirmos os olhos para isso e darmos a devida importância. 


Tekohá Itamarã
Localização da Aldeia

Indígena e professor
Residência do Cacique chefe da Aldeia Tekohá Itamarã
Escola Arajú Porã
A Aldeia Indígena Itamarã localiza-se na Linha Lagoinha em Diamante D’Oeste, composta por 28 famílias e aproximadamente 138 pessoas entre adultos e crianças da etnia Avá Guarani. É uma comunidade carente que necessita do apoio do município e do Estado, tanto econômico quanto educacional, pois vive do artesanato, da agricultura individual e coletiva. Originários de São Miguel do Iguaçu e de Terra Roxa, vieram para Diamante D’Oeste no ano de 2003. Em 2005 saíram da aldeia Tekoha Anhetete e se instalaram na fazenda na Linha Lagoinha, esperando que a situação fosse resolvida, porém como nada foi feito, o dono das terras começou a plantar e então os indígenas saíram e foram ao lado do lago de Itaipu, em Santa Helena. Ali permaneceram por (3) três meses e depois foram no espaço de lazer da prefeitura, na linha Santa Maria em Diamante D’Oeste, ficando ali por um ano. Após este longo período de negociação, a fazenda foi adquirida pela Itaipu e FUNAI, e foi inaugurada no dia 03 de fevereiro de 2007 e passou a ser denominada de Aldeia Itamarã que significa “Pedra Preciosa”. O acesso à aldeia é feito por estrada de chão de difícil acesso. A Aldeia vem enfrentando vários problemas relacionados a verba para aquisição do gás e outras despesas existente na
Escola Indígena Arajú Porã
vida vegetativa de qualquer escola de nosso país. Segundo a direção da Escola o Estado fornece o valor único de R$ 800,00, para custear os gastos com gás o que não é suficiente, sendo necessário a doação por parte dos docentes e dos indígenas que vivem na aldeia e que sem tal ação, o valor apenas atenderia um semestre ao invés de dois. A Aldeia não possui um posto médico, o que já vem sendo solicitado a tempos, mas até o momento nada foi feito.


ACERVO DE IMAGENS OBTIDAS NAS ALDEIAS
Tekohá Marangatu

Tekohá Marangatu

Tekohá Marangatu

Tekohá Marangatu

Tekohá Marangatu
Tekohá Añetete

Tekohá Añetete

Tekohá Añetete

Tekohá Añetete

Tekohá Itamarã

Tekohá Itamarã

Tekohá Itamarã

Tekohá Itamarã

Textos: Kako Henrique e Eduardo Teixeira
Fotos: Eduardo Teixeira
Obs: Informações complementares obtidas no trabalho de Conclusão de Curso da Professora Claudia Regina de Oliveira, diretora da Escola Tekohá Marangatu.
Agradecimentos: Caciques Inácio, João e Professora e Diretora Claudia Regina de Oliveira, pela recepção, carinho e disponibilidade em conceder as entrevistas. 

Trabalho de Conclusão de Curso Srª Claudia Regina de Oliveira
A GARANTIA DE DIREITOS DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS INDÍGENAS FRENTE ÀS POLÍTICAS PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CASOS GUAIRA-PR.


LINK para DOWNLOAD do Trabalho:

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