Carta Aberta da Marcha Mundial das Mulheres aos vereadores e vereadoras de Porto Alegre sobre as possíveis supressões no Plano Municipal de Educação a ser em breve votado em Plenário.
A cidade de Porto Alegre possui uma importante rede de escolas públicas e privadas e não pode passar ao largo das iniciativas educacionais de ampliação da consciência da igualdade de gênero no contexto educativo.
O projeto possivelmente será votado nesta quarta-feira, 24 de junho, e
sabemos que é possível que seja apresentado uma supressão do artigo 3º,
ítem III, tendo em vista a pressão da arquidiocese de Porto Alegre,
embora tenha sido apresentado opiniões contrárias a supressão, como
cartas enviadas aos vereadores e vereadoras como a Igreja Episcopal
Anglicana do Brasil, Prefeitura Municipal de Porto Alegre através da
Secretaria Adjunta de Direitos Humanos, da Coordenadoria da Diversidade
Sexual, da Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos (SJDH), SOMOS,
Nuances, além de manifestos nacionais e de especialistas em educação e
sexualidade.
Este artigo é de extrema importância deste ítem que trata da superação
das desigualdades e educacionais, com ênfase na promoção da igualdade
racial, regional, de gênero e de orientação sexual.
A formação continuada de educadores precisa aprofundar as perspectivas
para visando propor novas estratégias para eliminar o sexismo, o racismo
e a lesbofobia no espaço escolar e na sociedade.
Há várias dimensões que precisariam ser abordadas na discussão da
igualdade de gênero respeitando a diversidade e educação em sexualidade
dos livros didáticos ao currículo e nas atividades escolares.
Ampliar as discussões sobre a igualdade de gênero com reconhecimento da
diversidade como uma dimensão fundamental da educação é ainda um
processo em incorporação nas abordagens de ensino-aprendizagem por isso é
tão importante a sua explicitação no Plano Municipal de Educação (PME).
Não basta falar em direitos humanos em abstrato sem enfrentar o que
ocorre na vida e no cotidiano de alunas e alunos; sem desconstruir a
masculinidade hegemônica que apela para a virilidade abusiva e a
violência sexista.
A cultura da violência deve ser combatida: veja-se o exemplo recente da
adolescentes estuprada por três alunos numa escola estadual na cidade.
Cabe ressaltar que este não é um caso isolado, mas fruto da falta de
formação de jovens e adolescentes, que agrava os índices de violência
sexista.
Existe também uma ilusão de que há uma família modelo e se desconhece os
diversos arranjos familiares existentes. Mais de metade das famílias
brasileiras não corresponde ao arranjo tradicional: pai, mãe e filhos.
Há um grande número de mulheres chefes de família, de crianças criadas
por avós e tios, assim como as homoafetivos. Excluir o debate de gênero é
ignorar as diversas formações do espaço familiar. E, com isso,
silenciar as violências que podem ocorrer nele, seja qual for a sua
formação.
Os dados são alarmantes e estão todos os dias nos jornais como
estatísticas reais e a escola ao tratar desse temas pode se tornar um
suporte preventivo e um contraponto a determinadas situações de
violência intrafamiliar.
A cortina de fumaça lançada por setores conservadores e fundamentalistas
esconde as pesquisas que demonstram que a discussão das relações de
gênero que dizem respeito aos padrões de feminilidades e masculinidades e
que remetem também às sexualidades feitas em ambiente adequado e por
educadores com repertório sociocultural para tanto acabam por servir de
apoio para crianças e adolescentes que sofrem algum tipo de violência e
discriminação.
Temos
defendido a transversalidade de gênero no currículo que deve também
preocupar-se com a pedagogia oculta de gênero que não potencializa a
autonomia das meninas interferindo na trajetória escolar das mesmas,
resultando muitas vezes em segregações em carreiras ocupacionais
tradicionalmente femininas que as fazem ganhar, em média, 30% a menos do
que os homens no mercado de trabalho.
A educação para a igualdade ou educação não sexista é uma medida da
qualidade da educação e de uma pedagogia da autonomia, necessária ao
exercício da cidadania plena.
Como demonstram várias pesquisas e percepção cotidiana de educadores, a
prevenção da gravidez na adolescência só se torna realidade quando se
discute a sexualidade considerando a identidade, a subjetividade e o
projeto de vida das e dos adolescentes.
Portanto, novas práticas contendo essas dimensões são recomendadas pelas
conferências nacionais de políticas para as mulheres e pelo movimento
feminista.
Enfim, o PME precisa estimular uma educação sensível ao gênero para
superarmos as desigualdades e hierarquias no contexto escolar.
É nesse sentido que apelamos à consciência dos vereadores e vereadoras.
Para que estejam à altura dessa tarefa histórica e não se deixem
contaminar pelo fundamentalismo religioso já que o estado deve continuar
sendo LAICO.
Seguiremos em Marcha até que todas sejamos livres!
Marcha Mundial das Mulheres
fonte: http://mmm-rs.blogspot.com.br/2015/06/carta-aberta-da-marcha-mundial-das.html
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