A luta declarada dos movimentos sociais contra o agronegócio e as
monoculturas já não é novidade, e com o MOVIMENTO DOS TRABALHADORES E
TRABALHADORAS SEM TERRA (MST) não é diferente. O MST declaradamente luta contra
injustiças sociais de todos os gêneros e há tempos levanta uma bandeira a favor
da igualdade na distribuição de terras.
Essa luta é antiga, mas por vezes é degradante e demorada.
Acesso ao Acampamento |
Em 18 de março de 2016, cerca de mil e
quinhentas famílias receberam a ordem do estado de desocupar o acampamento
estabelecido na Fazenda Santa Maria no município de Santa Terezinha do Itaipu -
PR. A policia não mediu esforços e em 18 de maio de 2016, de maneira opressora
expulsou essas famílias do seu acampamento sediado na Fazenda. Conforme relatos
da militante Vani, uma das testemunhas da época, a medida que tentavam dialogar
com os policias no local, outros policiais, de maneira deplorável e humilhante
iam destruindo as casas, matando cachorros e expulsando as pessoas de suas
atuais moradas. Segundo Vani, a maioria
das famílias não conseguiu retirar os eletrodomésticos e móveis de suas casas.
VANI - Militante entrevistada |
Não tendo outra alternativa, os
acampados rendidos por policiais fortemente armados, foram deslocados em
caminhões do tipo caçamba, amontoados e com escolta policial como se
presidiários fossem. Esses caminhões foram fornecidos pela prefeitura de Santa
Terezinha do Itaipu, visando a retirada rápida de trabalhadores e suas
famílias, que eram vistos por aquela prefeitura como estorvo na região. Foram
para o atual acampamento nas margens da rodovia BR - 277 em São Miguel do
Iguaçu no Paraná, local do antigo ITEPA conhecido também por Escola José Gomes
da Silva. Foram três dias de mudança e muito sofrimento para os trabalhadores
que buscavam uma condição de vida mais justa e igualitária.
Antiga Escola Itinerante (Desativada) |
A nova ocupação que se estabeleceu de
maneira quase desumana perdura até os dias atuais, data desta matéria. Das 1500
famílias que chegaram ao novo acampamento, atualmente, restam apenas 80, devido
a forma precária com que os trabalhadores rurais e suas famílias se encontram
vivendo. Famílias lotadas nas antigas instalações do ITEPA, redistribuem-se em
ginásios, alojamentos, cozinhas e até mesmo banheiros.
Sem praticamente nenhuma área para
plantar os moradores vivem da repartição do pouquíssimo que produzem, de
doações de alimentos e de uma padaria comunitária existente no local. A policia
entra no acampamento de maneira inopinada e sem autorização nenhuma.
Condições de moradia atuais precárias |
Os habitantes do acampamento estão
esquecidos pela sociedade. Se não são as mobilizações do Movimento, ninguém
sabe a situação desses trabalhadores.
Militantes fazem a segurança do local |
De acordo com Saulo, morador do
acampamento, as promessas são muitas das instituições responsáveis como INCRA,
Governo do Estado do Paraná e Ministério Público. Porém todos dizem estar
buscando uma solução para essas famílias, mas até o momento nada mudou. O
Governador do Estado, Beto Richa, prometeu que até o fim de 2018 todas as
famílias acampadas do Paraná estarão assentadas. Mas o INCRA diz que não tem
dinheiro e nem terras para cumprir tal promessa. Além disso a segurança dentro
do acampamento é preocupante. Há relatos de contrabandistas, conhecidos por
"mochileiros" que cruzam o local a noite. A situação em um ponto de vista humanizado é
frustrante.
Apesar
de tudo, a esperança e a solidariedade dentro do acampamento não têm limites.
As mulheres se organizam em reuniões, as crianças brincam, estudam e todos
procuram se ajudar. A prefeitura de São Miguel do Iguaçu, na figura do prefeito
Claudiomiro da Costa Dutra, auxilia os acampados com ônibus escolar para o
deslocamento das crianças até as escolas municipais. Devido ao pouco espaço e a
proximidade com a cidade, o acampamento não possui escola itinerante. As
construções de casas no acampamento são voluntarias, mas a mobilização parte de
todos, mostrando que a coletividade funciona. Apesar dos inúmeros problemas a
comunidade funciona mostrando um alto grau de organização. O caráter social é
evidente nessa comunidade.
Enfim a luta pela terra ferve nas veias
dessas pessoas que não perdem a esperança de um futuro melhor principalmente
para suas futuras gerações. Mostram que
com muito pouco, mas força de vontade coletiva, qualquer sociedade pode dar
certo. Que esses companheiros
BANCO DE IMAGENS DO LOCALMoradias precárias |
Condições mínimas de sobrevivência |
Geração do presente, esperança do futuro |
Fotos: Eduardo Teixeira