Para sair da crise, o líder do MST
defende a construção de uma agenda única entre movimentos sociais e
partidos progressistas que preserve os direitos sociais e o emprego
por Redação RBA
publicado
13/08/2015 12:13,
última modificação
13/08/2015 12:45
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arquivo/MST
Líder do MST diz que saída de Dilma só agravaria crise e colocaria toda classe política sob contestação
São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff recebe
hoje (13), no Palácio do Planalto, lideranças dos sindicatos,
movimentos sociais e do movimento estudantil. João Pedro Stédile, da
coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST), em entrevista à Rádio Brasil Atual nesta manhã,
considera a Agenda Brasil proposta pelo presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), uma ‘sacanagem’ e diz que Dilma não pode ficar
refém de parlamentares e da mídia.
Na opinião de Stédile, a situação em que o Brasil se encontra
hoje é histórica e grave, por conta da aglutinação das crises econômica,
social e política. A economia está parada, com um processo
de desindustrialização que afeta o emprego e o salário dos
trabalhadores. As grandes cidades apresentam graves problemas sociais. E
a crise política ocorre, acrescenta, porque a democracia foi
"sequestrada" pelas empresas, por meio do financiamento privado de
campanhas eleitorais, que resultou em bancadas de empresas, em vez de
partidos, no Congresso.
Diante desse cenário de crise, diz Stédile, é preciso encontrar
saídas coletivas, em contraposição às propostas dos empresários, que
pretendem o realinhamento da nossa economia com os Estados Unidos, a
defesa do Estado mínimo, com corte de gastos em políticas e programas
sociais, e redução do que os empresários chamam de Custo Brasil, com a
retirada de direitos trabalhistas. Mas ele lembra que tais propostas
foram derrotadas por quatro vezes consecutivas nas urnas.
O integrante da coordenação nacional do MST critica setores da classe
média brasileira reacionária que, segundo ele, se identificam com as
ideias atrasadas da direita e acham que a saída para a crise é o golpe,
com a destituição de Dilma da presidência.
"Isso é uma idiotice completa porque, primeiro, a saída da presidenta
não representaria nenhuma solução, nem para a crise econômica, nem para
a crise política, nem para a crise social. Ao contrário, só agravaria
tudo porque introduziria então uma nova crise, a institucional. Porque o
povo brasileiro, nas eleições de outubro, elegeu não só a presidenta,
elegeu governadores, o parlamento, e nós temos que preservar essa
democracia, senão todos os eleitos estarão sub judice.”
Para Stédile, a defesa dos direitos dos trabalhadores deve ser o eixo
central a unir movimentos populares e militantes de partidos políticos
em uma agenda unificada que aponte saídas para o cenário de crise.
"Lutamos 20 anos contra a ditadura, contra o neoliberalismo, e agora
não podemos aceitar nenhum recuo nos direitos dos trabalhadores. (...)
Temos que defender os direitos sociais que atingem a toda a sociedade.
(...) Não podemos aceitar nem golpe, nem nenhuma formula jurídica
mirabolante de afastamento dos governantes. Eles podem estar certos ou
errados, mas têm o direito de ir até o fim. (...) Temos que defender a
soberania do nosso país frente aos ataques que vêm de fora, que não é
paranoia, e que se expressam na tentativa de privatizar o pré-sal, de
aumentar as privatizações das nossas empresas."
No dia 5 de setembro, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em
Belo Horizonte, está marcada uma grande conferência nacional popular
para debater uma plataforma de desenvolvimento do país. Stédile espera
que o esforço de construção dessa unidade não se restrinja ao combate à
direita, ou tenha apenas um caráter eleitoral, mas que garanta
consistência programática para levar adiante "mudanças estruturais e
populares que o Brasil precisa", dentre elas as reformas tributária,
agrária, educacional, dos meios de comunicação e do poder Judiciário.
"Na minha opinião, essa proposta que o (presidente do Senado) Renan
Calheiros e o PMDB apresentaram, com o nome de Agenda Brasil, é uma
sacanagem, no bom português. Isso é uma tentativa de mudar a verdadeira
agenda do Brasil e aceitar, de forma dissimulada, aquele programa que a
burguesia quer implementar."
Apesar da conjuntura de crise, Stédile diz que não há as mínimas
condições políticas e institucionais para um golpe. "O que os donos do
capital querem é a estabilidade institucional para continuar ganhando
dinheiro."
No entanto, o líder do MST reconhece o recrudescimento de posições
reacionárias, principalmente no seio da classe média, "que não suporta
essa política de ascensão social que tirou 40 milhões da miséria, que
levou a que muitos pobres andassem de avião, que garante carteira
assinada para as empregadas domésticas. Uma classe média, sobretudo
paulistana e carioca, que não aceita."
No encontro com a presidenta Dilma, Stédile deverá cobrar uma mudança
de rumo na economia do país, pois, segundo ele, os problemas não serão
resolvidos com as medidas do ajuste fiscal.
"Para enfrentar essa insatisfação popular, que o povo já está sentido
no supermercado, na elevação da tarifa da luz elétrica, na diminuição
do emprego, o governo tem que mudar a política econômica. Parar de pagar
juros. Neste ano, está previsto o pagamento de R$ 250 bilhões em juros.
Deslocar esses recursos para o BNDES, para o Banco do Brasil e para a
Caixa Econômica, e fazer investimentos pesados na construção civil, para
resolver o problema da moradia, no transporte público, o governo
poderia encomendar milhares de ônibus, mandar fazer trens para o metrô, e
na indústria, que é a única que pode dar emprego com qualidade."
Outra prioridade para o líder do MST é a reforma política, que
não depende do governo, mas ele pode agir politicamente, convocando a
sua base parlamentar para trabalhar nessa questão. "Enquanto não houver
uma reforma política séria neste país, a cada eleição teremos uma Lava
Jato."
Na semana passada, o MST ocupou o ministério da Fazenda e todas
os escritórios nos estados. Como resultado, Stédile diz que
interlocutores do governo se comprometeram a recuperar o orçamento da
reforma agrária e assumir o compromisso da presidenta durante a campanha
eleitoral de acelerar os assentamentos de 120 mil famílias que estão
acampadas.
Stédile afirma que a militância estará nas ruas. "Não vamos
deixar que aconteça um golpe. Não seria um golpe contra Dilma, mas
contra a democracia e a possibilidade de mudanças reais."
No dia 20, está prevista uma grande manifestação em
resposta aos ataques da direita, com mobilizações e passeatas em todas
as capitais do Brasil. Em São Paulo, a concentração será no Largo da
Batata, e a caminhada deve seguir até a sede da Rede Globo. No dia
7 de setembro, os movimentos populares voltam às ruas no Grito dos
Excluídos, realizado há mais de 20 anos, no centro da capital paulista.
O líder do MST condenou ainda o silêncio da mídia sobre o atentado
contra o Instituto Lula no último dia 30, e deixou um recado. "Repito a
ousadia que Ciro Gomes disse em uma entrevista recentemente: 'vocês não
ousem se atrever a fazer um golpe, porque nós somos bons de briga e não
vamos ficar em casa parados'", afirma, acrescentando que grande parte da
população permanece atônita, mas que se perceber riscos reais à
democracia e às mudanças sociais em curso, "aí sim teremos grandes mobilizações de massa em todo o país".
fonte:http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2015/08/stedile-refuta-o-golpe-e-diz-que-agenda-de-renan-e-sacanagem-2600.html
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